O objetivo de Jair Bolsonaro em 2026 é se estabelecer como um imperativo categórico para a oposição. Buscando hegemonizar o campo antipetista, ele usa a inequívoca capacidade de mobilização dos seus apoiadores como principal ativo para dobrar outros potenciais postulantes à sua vontade. Se não for o candidato (e nada indica que sua situação jurídica de inelegibilidade se reverta), então caberá a ele, e somente a ele, fazer a concessão ao que lhe prometer fidelidade irrestrita.

Governadores como Tarcísio de Freitas (SP) e Romeu Zema (MG) já bateram continência. Questionado se existe direita sem Bolsonaro, Tarcísio foi enfático: “Não existe”, disse em evento em Nova York (EUA). Será? Em outros momentos da história recente do país, o protagonismo do ex-presidente seria indiscutível.

Muito mais do que ser ou ter o sobrenome de Bolsonaro, o que importa é não ser Lula em 2026. O ex-presidente já não pode bater no peito e dizer que só ele vence o petista. Na verdade, Bolsonaro hoje representa o melhor caminho para a reeleição do atual presidente

Os números da última pesquisa Quaest, entretanto, indicam que vai surgindo uma janela de oportunidade para que uma candidatura de oposição sem o apoio de Bolsonaro se viabilize em 2026. Isso porque, além de se cristalizar na cabeça do eleitor o cenário mais provável de que ele não concorrerá, a rejeição ao governo petista é tão alta que já se constitui uma força de impulsão capaz de tornar competitivo qualquer nome que apenas seja percebido como contra Lula.

Nas simulações feitas pela Quaest com outros nomes em cenários com o atual presidente, há proximidade ou empate técnico. Lula e Tarcísio pontuam 41% a 40%, Lula e Michelle ficam em 43% a 39%, Lula e Ratinho Júnior marcam 40% a 38%, Lula e Eduardo Leite com 44% a 35%, Lula e Eduardo Bolsonaro com 44% a 34%, Lula e Zema com 42% a 33%, e Lula e Caiado aparecem com 44% a 33%. Considerando a margem de erro, nenhuma dessas possibilidades destoa de forma relevante dos números de Lula com Jair Bolsonaro, que ficam empatados em 41% a 41%.

A sinalização dos eleitores entrevistados é evidente: muito mais do que ser ou ter o sobrenome de Bolsonaro, o que importa é não ser Lula em 2026. O ex-presidente já não pode bater no peito e dizer que só ele vence o petista. Na verdade, JAIR Bolsonaro hoje representa o melhor caminho para a reeleição do atual presidente.

A mesma pesquisa da Quaest que simula Lula disputando a eleição com outros nomes também pergunta ao eleitor o que ele mais teme: se a volta de Bolsonaro ou a continuidade do petista em 2026. 45% dos entrevistados dizem temer mais a volta do ex-presidente e 40% possuem essa sensação em relação à continuidade do atual mandatário. O questionário da Quaest ilustra uma competição de rejeições, da qual Bolsonaro é campeão.

A visão negativa do petista e de seu governo não para de subir. A Quaest mostra que a desaprovação de Lula bateu em 57%. Ainda assim, também aponta que os eleitores temem mais Bolsonaro do que ele. E disso é fácil depreender que ele perderia para o atual mandatário num cenário em que concorresse. Enquanto os indicadores negativos e os múltiplos problemas do governo empurram eleitores para a oposição, Bolsonaro os devolve para o petismo.

Hoje, o maior cabo eleitoral da direita não é o ex-presidente, é Lula. Bolsonaro pode muito bem acabar como fardo a comprometer o objetivo político de tirar o PT do poder em 2026 se a oposição não abandonar o servilismo que devota a ele.